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Vol. 02 - Nº 04 - 2021

Para além do “pandêmico”

Dois mil e vinte nunca acabou. Dois anos em um. Até agora. “A Pandemia”: assim chamamos um período inteiro de caos na saúde pública regido por um (des)governo inegavelmente irresponsável. Adotamos um adjetivo e até o utilizamos para nomear alguns projetos, algumas ideias: “pandêmico”. 

Nesse momento conturbado, porém, muita gente produziu filmes, séries, videoclipes, vídeos ensaios, webséries e toda uma complexidade de registros audiovisuais muito diversa, boa parte a fim de capturar alguma coisa desse período específico. Isolados, aqui ou em qualquer parte do mundo, produzimos como nunca e, produzindo, dissemos (ou não) muitas coisas.

Penso que, nesse instante interminável, um tema nos sobrevoa. Falamos de vivências e de morte, de lutas e resistências; destruímos e (re)construímos imagens com nossos corpos, com nossas dores, com nossas angústias e, também, com mistérios que redesenham e/ou redescobrem imaginários, que fabulam sobre passados, presentes e futuros (im)possíveis.

Somos, portanto, talvez mais do que sempre fomos, agentes de memória. Eis nosso tema “pandêmico” por excelência. A memória do que fomos e do que estamos sendo e do que poderemos ser em um futuro próximo.

Sobre as imagens que, nesse tempo, tecemos em tela, pode-se dizer então que costuramos um memorial atemporal. Afirmamos a vida através de nossos corpos, filmamos nosso cotidiano mais banal, ou nosso desejo mais abissal, nossas insignificâncias e nossos atravessamentos. Em nossos corpos traspassados, renegados, marginalizados, traçamos velhos e novos imaginários. Repudiamos um país que nos agride e inventamos outras pátrias, outros mundos, outros universos, outros futuros. Revisitamos ruínas e perscrutamos escombros, escavando e redescobrindo histórias que, um dia, foram roubadas de nossos ancestrais. Sobrevivemos e vivemos… e como vivemos! Ressuscitamos nossos mortos, viajamos no tempo e através dos espaços, sobretudo desses espaços espúrios que nos reservaram, adentramos suas portas e derrubamos suas paredes com a violência das nossas imagens-memórias, porque esse registro memorial não se detém aos limites impostos, não necessita de máscaras e obstáculos; tudo quer e pode ser visto.

É sob o prisma deste registro desmedido da memória e do direito à memória que penso essa lista, não numerada e sem ordem de preferência, desejoso que ela se encontre – e seja encontrada – em um território capaz de observá-la com algum carinho, sabendo que essa lista/memorial não se contenta em ser “pandêmica”, apesar do tempo em que foi construída. Uma lista de filmes e séries deste tempo, deste agora interminável, mas que também inventa outros tempos (ontens, hojes, amanhãs):

Uma Noite Sem Lua (Castiel Vitorino Brasileiro, 2020)

Pode ser visto aqui: https://telatrans.com.br/filme/uma-noite-sem-lua/

Voltei! (Ary Rosa e Glenda Nicácio, 2020)

Inabitável (Enock Carvalho e Matheus Farias, 2020)

Petite Maman (Céline Sciama, 2021)

Manhãs de Setembro (Luis Pinheiro e Dainara Toffoli, 2021)

Primeira temporada disponível no serviço de streaming Prime Video.

Madres Paralelas (Pedro Almodóvar, 2021)

The Underground Railroad: Os Caminhos para a Liberdade (Barry Jenkis, 2021)

Série completa disponível no serviço de streaming Prime Video.

Memória (Apichatpong Weerasethakul, 2021)

Noche de Fuego (Tatiana Huezo, 2021)

República (Grace Passô, 2020)

Pode ser visto aqui: https://vimeo.com/423769303

Crash (Juçara Marçal, 2021)

https://www.youtube.com/watch?v=zhgmtLuEJq0
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Vol. 02 - Nº 04 - 2021

20 curtas-metragens: 20 caminhos possíveis para o cinema brasileiro dos próximos anos

Esta seleção surge em meio às safras de 2020 e 2021 (dois anos que para mim foram um único), com obras marcantes, que circularam pelos festivais online durante a pandemia e atingiram públicos bem mais amplos do que as salas exibidoras dos festivais – um momento ímpar na difusão do curta-metragem brasileiro,  e que espero ter sido capaz de proporcionar trocas e questionamentos que gerem frutos interessantes no decorrer desta década.

Temos aqui vinte modos distintos de se compreender e conhecer o Brasil contemporâneo e suas tensões, a partir dos instigantes discursos, estéticas e éticas trazidos pelxs novxs sujeitxs que têm reinventado o audiovisual brasileiro em anos recentes. Nesse conjunto, o curta-metragem traça uma radiografia do momento presente, ao mesmo tempo que aponta possíveis caminhos a serem trilhados, entre necessários fins de mundos (acontecendo e por acontecer) e urgentes fundações de outros, desta vez pautados por uma constelação de imagens mais focadas em libertar do que em reiterar os sempre mesmos traumas e silenciamentos coloniais que ainda abundam no “sagrado” cânone do cinema brasileiro.

República (Grace Passô, 2020)

Pode ser visto aqui: https://ims.com.br/convida/grace-passo/

A Morte Branca do Feiticeiro Negro (Rodrigo Ribeiro, 2020)

A cambonagem e o incêndio inevitável (Castiel Vitorino Brasileiro e Roger Ghil, 2021)

Pode ser visto aqui: https://vimeo.com/572278333

Perifericu (Vita Pereira, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Nay Mendl, 2020)

Uma paciência selvagem me trouxe até aqui (Érica Sarmet, 2021)

Inabitável (Enock Carvalho e Matheus Farias, 2020)

Inabitáveis (Anderson Bardot, 2020)

Egum (Yuri Costa, 2020)

Sem título # 7 – Rara (Carlos Adriano, 2021)

Nascente (Safira Moreira, 2020)

Disponível aqui: https://ims.com.br/convida/safira-moreira/

Morde e Assopra (Stanley Albino, 2021)

Usina – Desejo Contra a Indústria do Medo (Amanda Seraphico, Clarissa Ribeiro e Lorran Dias, 2021)

Per Capita (Lia Letícia, 2021)

Ser feliz no vão (Lucas H. Rossi dos Santos, 2020)

Abjetas 288 (Júlia da Costa e Renata Mourão, 2020)

Puxadinho (Fredone, 2020)

Menarca (Lillah Halla, 2020)

Até a data de publicação desta lista, o filme estava disponível na plataforma MUBI.

Sideral (Carlos Segundo, 2021)

4 Bilhões de Infinitos (Marco Antônio Pereira, 2020)

Pode ser visto aqui: https://www.periferica.art/4bilhoesdeinfinitos

A gente acaba aqui (Everlane Moraes, 2021)

Disponível em https://ims.com.br/convida/everlane-moraes/

BONUS TRACKS

Dois longa-metragens fundamentais:

Nuhu yãgmu yõg hãm: essa terra é nossa! (Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu, Roberto Romero, 2020)

Yãmĩyhex, as mulheres-espírito (Isael Maxakali, Sueli Maxakali, 2019)