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Editoriais Vol. 02 - Nº 04 - 2021

EDITORIAL: Listas de um ano sem fim

Para o ano que vem, se este acabar, esta revista pretende fazer muitas coisas. São tantos planos… O que esperávamos de 2021 pode ter acontecido, mas a impressão que temos é que esse ano sequer começou. 2020 nunca acaba. A pandemia é um ano só, um período, um momento, uma era.

Mas façamos nossas listas para os dias vindouros, listas de vontades, planos e desejos, ainda que alguns pesadelos recorrentes queiram cegar nossa visão de futuro, nossa projeção de Brasil e de mundo, e nossa esperança por dias melhores.

Tudo passa, e tomara que todos os males que nos rodeiam (e nos governam) sejam derrubados e fracassem, que tombem magistralmente do alto de seus paus pequenos. Que nosso futuro doa neles o que dói, agora, em nós, este presente.

E enquanto não vem o novo e imaginamos/construímos futuros possíveis e impossíveis, observamos o presente e o passado para formular outras listas: o que, enquanto imagem, nos atravessou nesse(s) ano(s) que nunca termina(m)?

Em sua primeira contribuição para a Reimagem, Erly Vieira Jr. traça um panorama de curtas-metragens realizados no Brasil em 2020 e 2021, com direito a bônus de dois longas importantíssimos, para pensar os futuros caminhos do audiovisual nacional. Gustavo Guilherme da Conceição elenca 11 produções nacionais e internacionais recentes que, de alguma maneira, conversam entre si em uma busca pelo direito à memória, à resistência e à vida. Waldir Segundo aposta em uma lista mais direta e comercial que observa tanto filmes e séries como jogos e outros projetos audiovisuais realizadas em 2021. PH Martins, em seu trajeto de textos didáticos sobre questões técnicas fundamentais ao cinema, entrega uma lista de músicas dos Racionais MC’s que poderiam facilmente ser parte de uma aula de roteiro cinematográfico. Por fim, os integrantes do podcast Terrorias da Conspiração elencam filmes, séries e videoclipes baseados, inspirados ou totalmente entregues ao terror.

São cinco listas que olham para esses dois últimos anos como se fossem um, apontando para produções que, de alguma forma, podem resistir a tudo isso e nos acompanhar no caminho que pretendemos trilhar de aqui para adiante.

Feliz depois-do-fim-do-mundo.

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Os monstros, os medos (ou uma lista menos terrível que a realidade)

Em 2021, como parte integrante da nossa terceira edição, lançamos o podcast Terrorias da Conspiração, um programa bem humorado, dedicado aos filmes e séries de horror, onde a ideia central era refletir de modo leve sobre questões como vida e morte, céu e inferno, a fé e a religiosidade, e tantos outros temas comuns abordados pelo terror desde seus primeiros passos dentro da história do audiovisual. Estamos em hiato, reformulando ideias enquanto nos dedicamos a outro projeto.

Esta lista, em consonância com a proposta da atual edição, propõe enxergar dois anos em um: o ano da pandemia, do isolamento, da solidão forçada, no Brasil, por dois vírus: aquele que conhecemos como Covid-19, e o que provavelmente será lembrado como o pior governante brasileiro, o presidente Bolsonaro, cuja necropolítica fez brotar em nosso povo, em plena crise sanitária mundial, uma sensação de insegurança e desespero muito mais assustadora que a provocada por qualquer filme de terror já feito.

Formular uma lista que elenque (e indique, de certa forma) filmes/séries e outros produtos audiovisuais calcados no gênero pode parecer um gesto contraditório nesses tempos cabulosos, mas o fato é que alguns monstros e medos criados pela ficção, ultimamente, tem se tornado menos terríveis – e às vezes até mais agradáveis de se olhar – que os monstros e medos da vida real. Utilizar dessas expressões como refúgio da realidade assombrosa que vivemos – e que ainda tem um resto de caminho penoso em 2022 – foi e é, para muitos de nós, a única maneira de seguir em frente numa realidade de tantos absurdos evitáveis.

Eis nossa contribuição para este volume que a Reimagem nos propõe no fim desse tão cansado de… 2020? 2021?

Sem ordem de preferência, eis a lista:

Midnight Mass (Mike Flanagan, 2021)

Minissérie completa disponível no serviço de streaming Netflix.

In Your Eyes (The Weeknd, 2020) 

https://www.youtube.com/watch?v=dqRZDebPIGs

The Night House (David Bruckner, 2021)

Malignant (James Wan, 2021)

Filme disponível no serviço de streaming HBOMax

Censor (Prano Bailey-Bond, 2021)

Relic (Natalie Erika James, 2020)

Menarca (Lillah Halla, 2020)

A Queda (Gloria Groove, 2021)

https://www.youtube.com/watch?v=BpxrvcYDnf4

 Sound of violence (Alex Noyer, 2021)

Fear Street (Leigh Janiak, 2021)

A trilogia está disponível integralmente no serviço de streaming Netflix.

Lovecraft Country (Misha Green, 2020)

Primeira temporada completa no serviço de streaming HBOMax.

Tapuru (Getúlio Abelha, 2021)

https://www.youtube.com/watch?v=NERqu-p2NQQ

Chucky (Don Mancini, 2021)

Série distribuída no Brasil pelo serviço de streaming STAR+

Old (M. Night Shyamalan, 2021)

Nem um Pouquinho (Duda Beat, 2021)

https://www.youtube.com/watch?v=qGZgSnJBilE

Menção desonrosa (ou menção horrorosa)

Assim como tudo nessa vida não passa de uma grande piada horrorosa, o Terrorias da Conspiração segue essa filosofia e, para ilustrar toda essa (des)graça, separamos esta seção da lista para nossas Menções Horrorosas, que vão para: Oxygen (Alexandre Aja, 2021); Host (Rob Savage, 2020); os dois filmes baseados no crime Richthofen (O Menino/A Menina que Matou meus/os Pais) e a série Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, ambos da Amazon Prime Video (2021).

Essa lista foi elaborada por integrantes (reais ou imaginários) do podcast Terrorias da Conspiração. Você pode discordar, mas não pode nos matar. Afinal, já estamos todxs mortxs.

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2021, um ano plural

Dois mil e vinte e um foi um ano complicado, principalmente de conteúdo. Passamos um ano inteiro com vários adiamentos de diversas formas, as indústrias todas pararam para repensar ou retrabalhar obras pós-Covid. O que pensar? Inserir a pandemia na narrativa das obras audiovisuais ou não? Tivemos exemplos de ambos, mas o resultado é difícil de descrever, o que resultou em um 2021 muito confuso.

Nesse contexto gostaria de comentar um pouco sobre as experiencias audiovisuais que se sobressaíram nessa confusão. Por algum motivo, a safra de cinema foi excelente, principalmente nos melodramas: Obras como  Ataque dos Cães de Jane Campion e Madres Paralelas de Pedro Almodovar chegaram em um destaque incrível, mas no quesito cinema, pra mim, a melhor obra de 2021 foi:

O Último Duelo, de Ridley Scott

©2021 20th Century Studios. All Rights Reserved.

Ridley Scott trabalha muito. Um homem de 84 anos que filma duas megaproduções juntas nessa energia é admirável. Ele filmou The Last Duel e, na sequência, The House of Gucci. Ainda não tive o prazer de ver o segundo, mas The Last Duel é uma das suas melhores obras. Imagine Gladiador, mas com uma atenção melhor ao roteiro e na direção. É complicado discutir mais sobre o filme sem entrar nos tais “spoilers”, mas The Last Duel é a obra máxima de Ridley Scott: conseguimos ver todas as interações de uma direção madura no decorrer do filme, que ainda atiça atuações incríveis de atores que muita gente imagina que não tem mais nada a oferecer, como Matt Damon e Ben Affleck. Infelizmente vai passar em branco nas premiações pois flopou nas bilheterias e foi eclipsado por House of Gucci, mas se você tiver a oportunidade de assistir, não perca tempo.

Pensando em obras eclipsadas, penso agora no meu curta favorito do ano:

Magnético

Magnético, Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt

O documentário de Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt, quando começa, passa a impressão de ser um mockumentary (documentário falso), sobre uma cidade que sofre de incidentes de agroglifos (marcações nas fazendas, semelhantes ao que rolava no filme Sinais), em cidades do interior de Santa Catarina. Quando você percebe que os relatos são reais e que as pessoas daquelas pequenas cidades estão compartilhando seu novo folclore, o filme cresce imensamente. Pessoas simples compartilhando histórias e a direção sabendo exatamente a linha do que é sério e do que seria considerado como galhofa, caso fosse uma mão mais pesada da direção, faz para mim um dos melhores documentários do ano. Pensar e viabilizar esse storytelling sem pesar no tema de ufologia, que é alvo fácil de chacota em qualquer contexto, não é para qualquer um.

Ainda pensando no contexto espacial, ao meu ver, um dos melhores jogos desse ano foi:

Metroid Dread

Metroid Dread: veja lançamento e gameplay do jogo para Nintendo Switch |  Jogos de ação | TechTudo

Dread, que por algum motivo bizarro nos faz pensar primeiro no corte de cabelo, significa medo ou temor. Metroid é uma franquia que trabalha muito a solidão: em quase todas as instâncias, a protagonista (Samus Aran) é jogada em um planeta desolado, somente com inimigos focados em barrar seu progresso. Nessa jornada solitária, Metroid Dread é o 5º jogo da série e encerra sua cronologia de forma magistral, onde o principal destaque são os EMMIs, que são seres robóticos que te perseguem e te matam em um hit só, diretamente inspirados no filme Alien, onde o xenomorfo é uma força imparável; além disso, o game tem uma das melhores batalhas de chefes do ano.

Impossível não citar também, agora em questão de série:

Chucky (Don Mancini)

O boneco não para! Em sua obsessão de destruir a maior quantidade de vidas possível, agora o vemos atuando em um pequeno subúrbio americano: sua cidade natal. Retornando depois de um arco narrativo de 7 filmes, Chucky agora chega em uma nova linguagem, a de tele-série. Em seus últimos capítulos, as produções cinematográficas se encaminhavam para uma finalização épica que acabou deixando muita coisa em aberto. Transformada em uma narrativa serializada, entretanto, houve espaço para um desenvolvimento maior e mais intrigante do boneco assassino mais famoso do mundo, além da inclusão de novos personagens que só enriqueceram o lore da série, isso sem deixar de mencionar especificamente os novos protagonistas, adolescentes LGBTQIA+, o que espelha uma persona do seu criador, Don Mancini, que vê na identificação algo muito importante para o entretenimento atual. Trazendo personagens queridos de volta (se tem algo que vende bem agora é essa nostalgia), mas dividindo bem o espaço com os novos elementos, Chucky foi uma grata surpresa, principalmente por vir de um canal que tem a fama de exibir produções de baixa qualidade. 

A PLURALIDADE DE 2021

Diversas obras poderiam ser mencionadas nessa lista, como a experiência virtual KID A MNSEIA do Radiohead, que comemora os 20 anos de seus álbuns icônicos em uma exploração audiovisual única dentro dos videogames. Também o esforço de Taylor Swift de regravar e relançar seus álbuns roubados, principalmente o álbum Red , repensando a narrativa do álbum e seus singles e lançando o curta água-com-açúcar de All Too Well.

No cinema, o fantástico não para: obras como Titane (Julia Ducournau) e The Night House (David Bruckner) refletem a dor e a confusão do que foi 2021 para a grande maioria das pessoas.

Se 2022 for tão confuso quanto, que seja nessa qualidade.