A ideia inicial dessa edição era celebrar de alguma forma os 100 anos da Semana da Arte Moderna de 22. Mas as palavras seguem vivas e pulsantes na reta final de um (des)governo que, antes mesmo de assumir o controle do país, desvalorizava nossa História, nossa Cultura, nossa Arte e a importância de nossa complexidade enquanto brasileiros.
Por quatro anos, tudo que nos foi oferecido pelo governo vigente foi aquele mesmo conteúdo da bolsa de colonoscopia do início de mandato. Em vários formatos, conteúdos e texturas, todas as questões para as quais procuramos solução nos foram respondidas com uma enchurrada da mais fétida merda.
Agora, ao final dessa desgraça, o Palácio começa a ser esvaziado e vemos as obras de arte que de lá saem: é como presenciar a escatologia de um corpo já apodrecido por fora e por dentro, um “líder” que alimentava-se tanto de seu próprio ego que era capaz de cagá-lo (ainda que pela autoria de outros) em forma de quadros cafonas e esculturas patéticas.
Estamos todos cansados e, nessa onda, limitar a um tema seria contraproducente. Abrimos, então, a caixa dos sonhos.
Neste volume, Gustavo Guilherme imagina um paralelo entre dois sucessos de crítica e de público no cinema em 2022, os filmes Nope, de Jordan Peele, e Marte Um, da Gabriel Martins; Letícia Oliveira descreve a ideia de “gosto” como uma contrução social; Matheus Alvarenga revisita o Movimento Antropofágico com olhares voltados para os dias atuais; PH Martins observa o estilo de uma das cineastas mais relevantes da contemporaneidade e Renata Costa, em texto revisitado e republicado por nós especialmente para este volume, fala sobre o grande filme brasileiro da temporada, Marte Um.