Esta seleção surge em meio às safras de 2020 e 2021 (dois anos que para mim foram um único), com obras marcantes, que circularam pelos festivais online durante a pandemia e atingiram públicos bem mais amplos do que as salas exibidoras dos festivais – um momento ímpar na difusão do curta-metragem brasileiro, e que espero ter sido capaz de proporcionar trocas e questionamentos que gerem frutos interessantes no decorrer desta década.
Temos aqui vinte modos distintos de se compreender e conhecer o Brasil contemporâneo e suas tensões, a partir dos instigantes discursos, estéticas e éticas trazidos pelxs novxs sujeitxs que têm reinventado o audiovisual brasileiro em anos recentes. Nesse conjunto, o curta-metragem traça uma radiografia do momento presente, ao mesmo tempo que aponta possíveis caminhos a serem trilhados, entre necessários fins de mundos (acontecendo e por acontecer) e urgentes fundações de outros, desta vez pautados por uma constelação de imagens mais focadas em libertar do que em reiterar os sempre mesmos traumas e silenciamentos coloniais que ainda abundam no “sagrado” cânone do cinema brasileiro.
República (Grace Passô, 2020)
A Morte Branca do Feiticeiro Negro (Rodrigo Ribeiro, 2020)
A cambonagem e o incêndio inevitável (Castiel Vitorino Brasileiro e Roger Ghil, 2021)
Perifericu (Vita Pereira, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Nay Mendl, 2020)
Uma paciência selvagem me trouxe até aqui (Érica Sarmet, 2021)
Inabitável (Enock Carvalho e Matheus Farias, 2020)
Inabitáveis (Anderson Bardot, 2020)
Egum (Yuri Costa, 2020)
Sem título # 7 – Rara (Carlos Adriano, 2021)
Nascente (Safira Moreira, 2020)
Morde e Assopra (Stanley Albino, 2021)
Usina – Desejo Contra a Indústria do Medo (Amanda Seraphico, Clarissa Ribeiro e Lorran Dias, 2021)
Per Capita (Lia Letícia, 2021)
Ser feliz no vão (Lucas H. Rossi dos Santos, 2020)
Abjetas 288 (Júlia da Costa e Renata Mourão, 2020)
Puxadinho (Fredone, 2020)
Menarca (Lillah Halla, 2020)
Sideral (Carlos Segundo, 2021)
4 Bilhões de Infinitos (Marco Antônio Pereira, 2020)
A gente acaba aqui (Everlane Moraes, 2021)
BONUS TRACKS
Dois longa-metragens fundamentais:
Nuhu yãgmu yõg hãm: essa terra é nossa! (Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu, Roberto Romero, 2020)
Yãmĩyhex, as mulheres-espírito (Isael Maxakali, Sueli Maxakali, 2019)
Erly Vieira Jr é cineasta, escritor, curador e pesquisador na área audiovisual. Doutor em Comunicação pela UFRJ (2012), com pós-doutorado em Cinema pela UFF (2020), é professor da UFES, onde atua no curso de Cinema e Audiovisual e no Mestrado em Comunicação e Territorialidades (POSCOM). É integrante do coletivo cultural capixaba Baile e coordenador do grupo de pesquisa Comunicação, Imagem e Afeto (CIA-Ufes). É autor dos livros Plano Geral – Panorama histórico do cinema no Espírito Santo (2015), Marcus Vinícius – A presença do mundo em mim (2016), Exercícios do olhar, exercícios do sentir (2019), Realismo sensório no cinema contemporâneo (2020) e Rasuras: 40 anos de vídeo experimental no Espírito Santo (2021). Desde 2012, é um dos curadores do Festival de Cinema de Vitória.